E se não fosse não sabe se saberia ser de outro jeito.
Desnuda-me,
retira-me a flor da pele,
de flor e pele já prescindo.
Instila-me um pouco a pouco de loucura:
“... grandes goles, d’água do esquecimento...”,
o imprevisível curso de um barco à deriva,
a paz,
com a infusão do
inconstatável.
Waldir Pedrosa Amorim in: O Avesso da Pele
Não sou uma mulher delicada e de modos educados, dessas que adora viver em permanente estado de paz , da tranqüilidade dos sentimentos e no equilíbrio das emoções. A sensatez de se viver sem maiores riscos nunca me agradou, só vejo graça no viver em corda bamba, em um numero de trapézio sem rede de proteção por baixo... a rotina e a certeza das coisas, das relações , do sentimento do outro a mim incomoda... a duvida me fascina..tudo o que me faz querer descobri r.
Adoro o inconcluso, o difícil...um desafio....o que me faça suar para conquistar...o que me faça sentir. Talvez seja esse o meu problema ter que sentir pra sentir que estou viva... dar vida ao sentir.
Não gosto de seguir um determinado caminho só porque dizem ser o politicamente correto, sou criativa o suficinete pra ter meus proprios conceitos e criar minhas proprias regras…
Sou vista muitas vezes como radical e devo ser em muitas situações assim...não sei exercitar a temperança... achar o ponto certo do doce ou do salgado e eu costumo exagerar no sal, no açúcar ou na pimenta sempre...não sei achar o meio termo em sentir....dividir meus sentidos ao meio. Quem sabe um dia eu aprenda a temperar mesmo sabendo que não nasci pra ser capacho de homem, mulherzinha submissa, dona de casa prendada , mãe de doze filhos …qualquer coisinha entre o quarto , a cozinha e a sala de jantar e que não gosto mesmo de cozinhar. Se quer mesmo saber; prefiro ser eu a própria refeição.... dessas completas, 3 em 1 (entrada, janta e sobremesa).
Sou dessas mulheres que tem a coragem de se entregar de bandeja mas somente pra quem tenha um apetite voraz... esses homens que se contentam com tira-gostinhos comuns , ou se acostumam com o trivial ... o feijão com arroz insosso de todo dia que fiquem bem longe de mim... e nem adianta vim querendo disfarçar arrotando caviar .... Não preciso de mentiras ilusórias e sim de um homem com coragem, vontade e fome -muita fome- com uma boca capaz de devorar um mundo. É preciso sobretudo também ter um paladar apurado..incomum..não sou mulher pra qualquer um, sou mulher de um homem só..o meu!
Ando dispensando os menus dos restaurantes... querendo desafiar o meu paladar...se for o mesmo prato que seja feito com outros temperos ou de forma diferente. Quero viver coisas novas , ouvir um eu te amo de diferentes formas...experimentar. Beber bebidas exóticas adocicadas mas com um picante no fim...tontear os sentidos, fazer bater mais forte o coração ..contrair o ventre ... ter á emoção presente de uma forma mais permanente... preciso me embriagar de vida urgente.
... Estar de pileque, descer do salto, revolucionar...dar vexame, quebrar conceitos e escandalizar
É essa maldita mania minha de intensidade que me faz querer sempre mais , mais e mais mas nunca o demais pra sempre.... Porque o que é pra sempre, sempre acaba.
Não quero uma vida calma, alento de paz - para todo o sempre amém. - Não sou mulher de fala mansa e educada.... Não me dêem portanto uma vida sussurrada...preciso de uma vida gritante aqui dentro , que ouçam os gritos que saem de mim ....viver aos berros sim, por que foi aos berros que nasci.
…Erikah Azzevedo…
"(...)e quem pode comigo
quando eu digo tudo o
que sinto?(…) "
Caio Fernando Abreu
"(…)Eu não quero ter vergonha
de nada que eu seja
capaz de sentir(...)”
Caio Fernando Abreu
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