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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Subfebril…

Custa-me crer que eu morra. Pois estou borbulhante numa frescura frígida. Minha vida vai ser longuíssima porque cada instante é. A impressão é que estou por nascer e não consigo.

Você que me lê que me ajude a nascer.

Clarice Lispector

20090112190541

Tá tudo morno aqui dentro, tudo pacato, compacto, aquiescendo. Tudo quieto, mudo, claro...uma meia luz. Alegria que se faz por não ser tristeza. uma paz morna, um meio-sol que ainda não se pôs, uma meia lua que ainda não surgiu...um entardecer prolongado. Tudo em banho maria. Um fogo brando, faiscado, um não ser meia noite e nem meio dia, tudo meio termo...tudo calmaria. Um aconchegar de paz....um estar subfebril.

Água de banho, líquido amniótico, chá de camomila, leite materno, chocolate derretendo, sopa de letrinhas...

...Erikah Azzevedo...

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"Um dia, porém, sentia seu corpo aberto e fino, e no fundo uma serenidade que não se podia conter, ora se desconhecendo, ora respirando trêmula de alegria, as coisas incompletas. Ela mesma insone como luz — esgazeada, fugaz, vazia, mas no íntimo um ardor que era vontade de guiar-se a uma só coisa, um interesse que fazia o coração acelerar-se sem ritmo... de súbito, como era vago viver. Tudo isso também poderia passar, a noite caindo repentinamente, a escuridão fresca sobre o dia morno."

Clarice Lispector

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Aspirou ar morno e claro da tarde, e o que nela pedia água restava tenso e rígido como quem espera de olhos vedados pelo tiro.

A noite veio e ela continuou a respirar no mesmo ritmo estéril. Mas quando a madrugada clareou o quarto docemente, as coisas saíram frescas das sombras, ela sentiu a nova manhã insinuando-se entre os lençois e abriu os olhos. Sentou-se sobre a cama. Dentro de si era como se não houvesse a morte, como se o amor pudesse fundi-la, como se a eternidade fosse a renovação.

[Andreia, em a menina dos olhos de agua]

Sun_Kissed_by_LadyOfVelvet

A espera de uma brasa que se transmute em fogueira

De dias que de tão quentes evaporem.

A espera de um fogo que me queime,

de um campo de trigo onde se colha e se coma ... o pão …

…Erikah Azzevedo…

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Queimará o monte, o filho, a lenha.A morte, as areias, a viagem... O deserto, a túnica, as estrelas

Nunca será bastante o incêndio.

(Daniel Faria)

Um comentário:

  1. E ela assim,
    equilibrista louca,
    querendo cair
    do lado menos igual,
    em cima da linha bamba
    que desa[corda]
    do não letal...

    Ela, intensa e atrevida
    esperava acender a vida
    numa temperatura inatural

    Água em brasa
    vida consumida
    nunca dosada
    em fome branda

    Porque teu texto é magnífico enquanto construção que anseia a desestrutura do que é ameno.

    Beijos.

    Katyuscia.

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